segunda-feira, 10 de junho de 2013

Partidas e chegadas

Do alto dos meus 43 anos, posso afirmar com certeza que, as pessoas vão embora da nossa vida de todas as maneiras. Do nosso coração, do nosso abraço, da nossa amizade, da nossa admiração, do nosso país…
E muitas, a quem dedicamos um amor profundo, partem para outra dimensão, e continuam imortais dentro de nós. A vida segue: às vezes dói, rasga o coração, enche-o de saudade… depois vem a aceitação. A dor é amenizada, a falta traz apenas uma doce lembrança, por vezes até engraçada, a filosofia de vida, o jeito característico, aquela particularidade da pessoa que se foi.

Mas as pessoas vão embora. As coisas acabam, as relações esvaiem-se, as paixonites vão pelo ralo abaixo, os “adeus” começam a fazer sentido. E então começamos a perceber, que se sentimos tanto com estas idas e vindas, é porque estamos vivos. Cuidemos então deste “agora”. Muitos já partiram para nos ensinar que a vida é apenas um pedaço de um momento que pode durar cem anos ou apenas cinco minutos. E não importa quanto tempo tivemos para amar alguém, mas o amor que investimos durante esse tempo. Os segundos podem ser eternidades, ou não. Depende da força com que os abraçamos.




domingo, 9 de junho de 2013

Sem memória

O teu corpo e as palavras fazem-me sair de casa, mergulhar na floresta, perder-me em sentidos, até que a angústia é tanta que só posso querer encontrar o caminho de regresso. Se te agarro com força, querido, é por sentir medo. Há sempre um momento, mesmo antes do sobressalto no meu útero, em que a tua boca incha e eu rebento, em que as tuas mãos se abrem, os dedos despontam, e eu quase morro. Voltar a casa, amor, voltar a mim, à sala de todos os partos, é querer que cresças mais. Busco as árvores que marquei a giz e às vezes chego insana e salva.

Um dia há muitos anos encontramo-nos, lembras-te? Eu entrei pelo lado direito do mar, a Norte do Equador, tu entraste pelo outro lado, mais a Sul. Atravessávamos meridianos sempre que nos embriagávamos mas nesse dia aproximaste-te de mim como se tivesses um radar e pudesses saber que eu existia. E depois disseste que nadavas para não morrer.
É possível que qualquer um de nós já só esteja meio vivo, seja apenas meio humano, e que em vez de pés arrastemos caudas, e que junto aos pulmões tenham crescido guelras. Eu às vezes perco o coração e o teu soçobra a cada instante. Mas agora, amor, agora que a água e o ar que respiramos nos sopram vida, quero que sejas tudo o que inventar, deixa-me pegar em mim e acender-te. Agora que sob a acção da luz mudo de cor, deixa-me transformar-me e ser tu já sem memória!

A tua.


quinta-feira, 6 de junho de 2013

Já não sou a mesma

    "A vida tem caminhos estranhos, tortuosos, às vezes difíceis: um simples gesto involuntário pode desencadear todo um processo. Sim, existir é incompreensível e excitante. As vezes que tentei morrer foi por não poder suportar a maravilha de estar vivo e de ter escolhido ser eu mesmo e fazer aquilo que eu gosto - mesmo que muitos não compreendam ou não aceitem."

Caio Fernando Abreu




Após um "luto" de cerca de 3 anos, decidi regressar. Estou diferente, disseram-me, eu sei. Estou e sinto-me diferente. Mais consciente de mim enquanto ser especial e único, mais consciente dos outros, sinto-os mais com o coração. Dou mais valor às coisas que acho que devemos valorizar; a família, os amigos, a natureza, os animais, o sol, o céu e as estrelas, o mar, o rio, os sons, os aromas, as cores. Tudo aquilo que compõe o nosso belo planeta, tudo aquilo que compõe o universo, tudo aquilo que nos compõe a nós seres humanos. Tudo aquilo que nos faz feliz, obviamente sem o prejuízo de ninguém. Hoje, eu consigo olhar para o meu passado apenas como uma espectadora. E consigo apontar cada detalhe, cada erro e cada acerto. E cada instante, emoção e fuga. As expectativas que esperei, as dependências que criei, as imposições que lancei, hoje, são um presente de maturidade e optimismo. Porque comecei a atrair pessoas, histórias e assuntos mais leves, mais saudáveis. E criei para mim uma rotina de paz, e deixei de admirar muitas pessoas e passei a apreciar outras tantas. 
Vivi muita solidão e desespero, mas muito aconchego também. Sou tão grata por tudo aquilo que me magoou, por tudo o que me fez sangrar, pelas horas de sono perdidas. 

Hoje eu posso eu dizer bem alto e com o coração leve: VAI DAR TUDO CERTO, porque a vida encarrega-se das coisas e compensa-nos com ela mesma. 
Reapareço como a brisa que viaja vinda do infinito, de um lugar longínquo que o próprio mundo desconhece. O ar que nos abraça e nos leva a percorrer a fantasia guardada nas nuvens que clareiam o céu e o tornam na luz da existência, o sol que nos ilumina a face e nos aquece o peito.  
Agradeço ao Universo e a quem ele colocou no meu caminho, aos meus familiares e amigos, que com tanto amor, compreensão e paciência, respeitaram o meu tempo e todas as minhas etapas. Agradeço também a mim, que tive a coragem necessária e escolhi sobreviver a tudo.

Já não sou a mesma. E não mudei apenas o meu cenário e os meus personagens:
Eu mudei-me a mim, mudei os meus hábitos e comportamentos. Decidi seguir adiante, lançar-me ao desconhecido e aceitar todas as dádivas. Nisso encontrei a minha libertação.

sábado, 1 de junho de 2013

do verbo > Regressar <


Volto em forma de palavras ausentes de melancolia.

Volto pela minha essência de um Ser composto de histórias urgentes e enigmáticas.

Volto num presente feito de passados longínquos, apaixonantes, apaixonados, deslumbrantes e

deslumbrados, volto para me fazer eu/minha >






> dona de histórias ricamente traçadas por um caprichoso destino. Sou eu em mim, o máximo de mim. Existo no meu Ser, no meu todo; corpo e alma, a eterna dualidade de um só corpo, o significado dos meus sentidos, a explicação mais racional das minhas sensações. Eu; Carla, uma alma que regressa ao corpo ausente.


«A Alma regressa ao corpo
Dirige-se aos olhos
E choca. _ A Luz Invade
Todo o meu ser. Que espanto!»


Jorge Guillén